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Crise? Qual crise?

 

Hoje não venho falar de crise, nem da queda do Governo de Sócrates. Deixo isso aos políticos e aos comentadores das noites televisivas a quem, de mão beijada foram oferecidos temas para muitas e repetitivas conversas, nos próximos meses.

Vêm aí anúncios de personalidades ministeriáveis para esta ou para aquela pasta, revelações bombásticas sobre medidas a incluir em programas eleitorais, informações de fontes próximas deste e daquele lider partidário que fazem notícias ou manchetes e vendem mais jornais e telejornais, em horas de grande audiência.

Nestas ocasiões, estabelece-se uma relação, quase promíscua e interesseira, entre jornalistas, dirigentes político-partidários e candidatos a deputados, envolvimento que alimenta páginas e páginas de jornais. Os critérios jornalísticos são ultrapassados por critérios comerciais e estes, regem-se pelas  clientelas eleitorais e partidárias que se alinham, facilmente, sob este ou aquele título, este ou aquele comentador convidado, este ou aquele político escolhido a dedo para a série infindável e cansativa de debates que, a partir de agora, se adivinham.

São debates sobre o que pode ou não fazer um governo de gestão, sobre a data das eleições, sobre mais empréstimos e o pagamento de juros da dívida, sobre os programas eleitorais, sobre coligações e alianças pós-eleitorais, sobre gastos da campanha, sobre a fiabilidade dos cadernos eleitorais, debates sobre debates com os líderes dos partidos, a dois a quatro a seis ou a oito e se são nesta ou naquela televisão, debates sobre quem começa e quem acaba a entrevista, debates sobre um novo PEC, sobre se há ou não dívida escondida, debates sobre se vamos pagar mais ou menos impostos...debates e mais debates, não para esclarecer os eleitores sobre a garantia de execução de novas e menos penalizantes medidas políticas, mas para sossegar clientelas ávidas de poleiros, de cargos, de prestígio e de visibilidade.

A realização de eleições abre a porta a novos protagonistas políticos que já se movimentam, pressurosos, junto dos estados maiores dos partidos, prometendo em troca fidelidade e um ilimitado empenho nas acções de campanha e na « caça » de velhos e novos eleitores.

Nos corredores do poder e nos bastidores dos partidos vai um movimento desusado, não para encontrar as melhores soluções que visem a melhoria de vida dos cidadãos – base e fonte do poder democrático –, mas para conquistar um lugar elegível nas listas de deputados, num gabinete ministerial, numa empresa pública... num poleiro qualquer.

Bem longe destas movimentações interesseiras vive o cidadão comum, vergado pelo peso das suas obrigações fiscais, pelo cumprimento dos seus compromissos bancários. Sujeito ao seu trabalho diário e ao sustento da sua família, tem de mourejar, incessantemente, para andar na rua de cara lavada, primando pela honestidade e pelo cumprimento do dever.

Por isso é cada vez maior o fosso entre eleitores e eleitos, políticos, governantes e povo em geral.

Este distanciamento favorece e explica o aumento da abstenção, do desinteresse por quem nos governa, e a generalização de maus juízos sobre os responsáveis políticos. São todos iguais, diz-se, por aí, à boca cheia.

Os jovens, a geração à rasca, aliou-se da participação política e nem participa no acto eleitoral. Os mais velhos, ficam cada vez mais em casa, cansados de promessas não cumpridas e de tantos sacrifícios inconsequentes.

Será esta a nossa sina?

Mas hoje não vou falar de crise, nem da queda do Governo de José Sócrates, o Primeiro Ministro determinado que no seu primeiro governo baixou o défice do Estado e prometeu o que não poude cumprir.

Também não vou falar de outros candidatos bem conhecidos em lides políticas e batalhas eleitorais, onde renovaram amor eterno aos idosos e pensionistas, aos agricultores e empresários, aos trabalhadores, desempregados e demais pobres.

Toda a gente gere a crise no seu dia-a-dia, com maior ou menor dificuldade, mas encontrando, habitualmente, saídas corajosas e compatíveis com as suas possibilidades.

A crise transformou-se numa forma de vida, num processo em que todos, mais ou menos, estamos envolvidos há anos, muitos anos!

Então, não emigrámos para o Brasil e América do Norte por causa de crises, não passámos por crises sísmicas, intempéries e tantas desgraças?

Crise? Qual crise? A que nós gerimos, na economnia doméstica, é bem maior que a crise que outros nos pretendem impôr, obrigando-nos a pagar dívidas que não contraímos, com dinheiro que não temos.

A crise faz parte da história humana e não há volta a dar a esta lei. Ela decorre da transitoriedade da vida.

Daí eu não pretender falar da crise e muito menos da queda do governo...

 

 

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